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A origem do petróleo tem sido uma questão debatida na ciência por décadas. A teoria biogênica, que sugere que o petróleo é formado a partir de restos de organismos antigos, é amplamente aceita. No entanto, a teoria abiótica do petróleo, que propõe sua origem inorgânica, também merece atenção. Independentemente da origem, o petróleo é uma fonte significativa de emissões de metano (CH₄), um potente gás de efeito estufa. Em consequência, a ampliação do uso de biogás como fonte de energia é uma solução necessária, inteligente e inadiável, com benefícios diretos no tratamento de resíduos orgânicos e os impactos positivos daí recorrentes, como na saúde pública e na frenagem do aquecimento global e das emergências climáticas.
A teoria do petróleo abiótico sugere que o petróleo se forma por meio de processos geológicos inorgânicos, não relacionados com a matéria orgânica fossilizada. Defensores desta teoria apontam para a presença de hidrocarbonetos em corpos celestes e em regiões da Terra onde a presença de matéria orgânica é improvável. Segundo esta visão, o petróleo seria gerado a partir de reações químicas entre minerais no manto terrestre, antes de migrar para reservatórios mais próximos da superfície.
Embora a teoria abiótica não seja amplamente aceita pela comunidade científica, ela levanta questões interessantes sobre a formação de hidrocarbonetos e suas implicações ambientais. Uma das principais preocupações é que, independentemente de sua origem, a extração e uso do petróleo resultam em emissões significativas de metano, um gás com potencial de aquecimento global muitas vezes maior que o dióxido de carbono (CO₂) em um horizonte de 100 anos.
A produção de petróleo, independente da origem biogênica ou abiótica, envolve, inevitavelmente, a liberação de metano. Este fato evidencia a necessidade urgente de se encontrar fontes de energia alternativas que reduzam a dependência da sociedade humana dos combustíveis fósseis e suas emissões associadas. É aqui que o biogás se firma como solução viável e sustentável.
O biogás é produzido por meio da digestão anaeróbia de resíduos orgânicos por microrganismos. Este processo ocorre em biodigestores, onde resíduos agrícolas e ou urbanos são convertidos em biogás, composto principalmente por metano e CO₂, e em biofertilizante, um subproduto rico em nutrientes capaz de impactar forte e positivamente a agricultura brasileira. Como se pode depreender, os benefícios da geração e utilização do biogás são múltiplos:
– Redução de Emissões de Gases de Efeito Estufa – Ao capturar e utilizar o metano que seria liberado durante a decomposição natural dos resíduos orgânicos, o uso do biogás evita emissões diretas de metano na atmosfera. Além disso, o biogás substitui combustíveis derivados do petróleo, reduzindo as emissões de CO₂ associadas à sua queima.
– Gestão de Resíduos – A digestão anaeróbia trata resíduos orgânicos de maneira eficiente, reduzindo o volume de resíduos que vão indevidamente para os aterros sanitários. Isso não só diminui as emissões de metano desses aterros, mas elimina a contaminação do solo e da água.
– Produção de Biofertilizante – O digestato, subproduto da digestão anaeróbia, é um fertilizante orgânico rico em nutrientes que pode melhorar a saúde do solo e aumentar a produtividade agrícola, fomentando uma agricultura sustentável e reduzindo a dependência de fertilizantes sintéticos normalmente importados.
– Energia Renovável – O biogás é uma fonte de energia renovável e pode ser utilizado para gerar eletricidade, calor ou ser utilizado como combustível veicular, o biometano. Sua utilização diversifica a matriz energética brasileira e aumenta a segurança energética do país.
– Impacto no Aquecimento Global – Ao ser utilizado como fonte de energia, o biogás reduz a quantidade de metano liberado na atmosfera, o que é um passo essencial na mitigação das emergências climáticas, dado o seu alto poder como gás de efeito estufa. A expansão do uso de biogás pode desempenhar um papel importante na resposta às emergências climáticas cada vez mais recorrentes e severas. Ao se adotar o uso do biogás, reduz-se também o impacto da flutuação nos preços dos derivados do petróleo em razão de crises e guerras e das interrupções no fornecimento de energia. A produção local de energia a partir de resíduos orgânicos fortalece a economia circular, promovendo a autossuficiência energética e a sustentabilidade.
A discussão sobre a origem do petróleo não altera o fato de que sua extração e uso resultam em emissões significativas de metano. Este potente gás de efeito estufa contribui substancialmente para o aquecimento global, agravando as emergências climáticas. Diante deste cenário, a ampliação do uso de biogás como fonte de energia é uma estratégia inteligente e necessária.
O biogás é pródigo nas soluções que oferece: reduz emissões de gases de efeito estufa, melhora a gestão de resíduos, produz biofertilizantes e é fonte de energia limpa e, de fato, renovável.
A transição para o biogás não é apenas uma medida ambientalmente responsável; é um passo urgente e necessário para assegurar o futuro. Ao adotar e promover o uso de biogás, investe-se em tecnologias que atendem às necessidades energéticas atuais e também protegem a Terra para as gerações futuras.
Gilmar
Mestre em Ecologia Humana e Problemas Sociais Contemporâneos pela Universidade Nova de Lisboa, Pós-graduado em Educação Ambiental, em Gestão Ambiental e Sanitária e Técnico em Meio Ambiente. É consultor especialista em biogás.