PGPB ou A ERA DO BIOGÁS (I)

Esta é uma história em que a humanidade, num futuro distante (presumindo-se que haverá futuro distante), tomou a decisão inevitável de adotar o biogás como sua principal fonte de energia, depois de ter enfrentado sucessivos eventos originados das emergências climáticas que aceleraram a deterioração ambiental, e precisar se voltar definitivamente para soluções sustentáveis como, talvez, última cartada. A profunda transformação exigida para abolir o uso do petróleo fez com que fosse aprovada a Política Global e Planetária do Biogás – PGPB. Desde a infraestrutura urbana até a vida rural, passando pela economia e pela saúde pública, cada aspecto da sociedade humana foi impactado pela mudança para o biogás, mas não sem resistência dos que apreciavam as suas zonas de conforto estúpidas, mas lucrativas. E começou assim: Em um mundo abalado por crises ambientais e climáticas, era urgente uma decisão global de abandonar os derivados do petróleo, e adotar o biogás foi a solução natural e mais completa encontrada. Nascia a Era do Biogás, que começou com um consenso global de líderes. Com a aprovação da PGPB reconhecia-se a necessidade de uma transformação radical para tentar garantir a sobrevivência e possibilidade de futuras gerações. Era o equivalente ao “ou dá ou desce”: ou muda ou morre.

As temperaturas globais tinham subido demasiadamente, as calotas polares derretiam em velocidade preocupante e os eventos climáticos extremos tornavam-se mais frequentes e devastadores. O aumento dos níveis de dióxido de carbono e metano na atmosfera devido à queima de combustíveis derivados do petróleo colapsava o equilíbrio ecológico da Terra. E como isto é uma ficção, os líderes mundiais despiram-se de seus interesses e irmanaram-se para adotar a melhor solução: o biogás.

Foi nesse cenário de urgência que a proposta da PGPB surgiu e foi aprovada, passando a ser o biogás a principal fonte de energia para mover e alimentar a engrenagem social. A produção de biogás a partir de resíduos orgânicos não só oferecia uma solução para o problema da destinação desses resíduos, mas era capaz de produzir eletricidade e calor, e ainda oferecia um fertilizante limpo e de excelente qualidade para a recuperação do solo e para a produção de alimentos.

A implementação do uso do biogás em escala global exigiu mobilização sem precedentes. governos, organizações não-governamentais e empresas privadas uniram forças para promover essa transformação. Inúmeras campanhas de sensibilização foram lançadas para educar a população sobre os benefícios do biogás.

Incentivos financeiros foram oferecidos para a instalação de biodigestores em residências, fazendas, escolas, indústrias e praças. Os governos investiram pesadamente na infraestrutura para garantir que a coleta e o processamento dos resíduos orgânicos fossem eficientes e abrangentes. A transição para o biogás foi vista como uma necessidade ambiental e como uma oportunidade para gerar novos empregos e estimular a inovação tecnológica.

O biogás, produzido pela decomposição anaeróbia de resíduos orgânicos em biodigestores, tornou-se a base da nova infraestrutura energética sem muita dificuldade, devido aos eventos extremos que abandonaram no campo das possibilidades alarmistas e passaram a ser recorrentes. Os biodigestores, que antes eram vistos timidamente, foram amplamente adotados. E isto foi muito bom, já que transformavam restos de alimentos, dejeto de todo tipo de animal, lodo do tratamento de esgotos… tudo que fosse orgânico em biogás e biofertilizante.

Grandes plantas de biogás foram construídas em áreas urbanas e rurais, conectadas a redes de distribuição que forneciam energia para residências, empresas e veículos, tudo de modo eficiente e descentralizado. A transição foi facilitada pela implementação de tecnologias avançadas de filtragem e armazenamento de biogás, garantindo que a energia produzida fosse eficaz e segura.

Nas cidades, a vida cotidiana mudou radicalmente. Os resíduos orgânicos, que antes eram lixo, tornaram-se valiosos. Cada residência possuía um pequeno biodigestor para processar seus próprios resíduos e garantir, no mínimo, o gás de cozinha. As cidades estavam mais limpas e verdes, com menos lixo nas ruas e menor pegada de carbono.

O transporte público, os veículos particulares e até mesmo os aviões foram adaptados para funcionar com biometano, o biogás filtrado dos seus outros constituintes (CO2, H2S e vapor d’água). A qualidade do ar melhorou significativamente, resultando em menores taxas de doenças respiratórias e cardiovasculares.

Nas áreas rurais, os agricultores vivenciaram uma verdadeira revolução verde. A instalação de biodigestores e motogeradores nas grandes fazendas leiteiras e suinícolas permitiu a produção de biogás para uso próprio e para venda. E o biofertilizante, subproduto do processo, melhorou a qualidade do solo e aumentou a produtividade agrícola, promovendo práticas agroecológicas, eliminando a dependência dos fertilizantes sintéticos.

Mulheres e crianças que, antes, passavam horas catando lenha para cozinhar, quer dizer, para usar como combustível, puderam dedicar mais tempo à educação e ao trabalho produtivo, favorecendo o empoderamento feminino.

A mudança para o biogás trouxe outros e significativos benefícios. As comunidades rurais estavam agora mais conectadas e integradas à economia global. A educação e a saúde melhoraram, com escolas e clínicas abastecidas por energia limpa e renovável. O surgimento da Era do Biogás representou uma transformação profunda na sociedade humana. A decisão de abandonar os derivados do petróleo atenuou as crises climáticas e criou a base para um futuro sustentável e próspero. A mobilização global, a nova infraestrutura energética e os impactos positivos na vida urbana e rural mostraram que a humanidade era capaz de reinventar seu destino por meio de escolhas sustentáveis e inovadoras.

À medida que a sociedade evoluía, a Era do Biogás se consolidava como exemplo de união da ciência, política e ação comunitária, transformando o mundo e assegurando que as futuras gerações herdem um planeta limpo e saudável.

Essa história ainda continua.

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Gilmar

Mestre em Ecologia Humana e Problemas Sociais Contemporâneos pela Universidade Nova de Lisboa, Pós-graduado em Educação Ambiental, em Gestão Ambiental e Sanitária e Técnico em Meio Ambiente. É consultor especialista em biogás.

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O potencial do biogás