Algumas palavras têm seu protagonismo derivado de certos modismos, outras, como a agroecologia, sobre a qual este texto se debruçará, têm sua relevância construída numa necessidade da sociedade humana, sempre ensejando um olhar diferente sobre o tema. A agroecologia, pois, como palavra e como conceito revolucionário, embora secular e milenar, transcende a simples prática agrícola; é um movimento, uma filosofia e uma abordagem holística para transformar a maneira como entendemos, praticamos e vivemos a agricultura. O conceito de agroecologia vai muito além do cultivo de alimentos; representa um sistema integrado que respeita os princípios e processos naturais, promovendo a sustentabilidade, a saúde do solo, a biodiversidade e o bem-estar humano.
A agroecologia é um campo interdisciplinar que combina conhecimentos da ecologia, agronomia, sociologia e outras ciências. Ela busca estabelecer sistemas agrícolas resilientes e sustentáveis, considerando a interação entre os elementos naturais, sociais, econômicos e culturais. Ao contrário dos métodos convencionais, a agroecologia respeita a diversidade biológica, reconhece os saberes locais e valoriza a participação comunitária.
O principal objetivo da agroecologia não se resume apenas à produção de alimentos, mas sim à promoção da segurança alimentar, à preservação dos recursos naturais e à melhoria da qualidade de vida das comunidades rurais e urbanas. Ela busca a soberania alimentar, possibilitando que as comunidades tenham acesso a alimentos saudáveis, produzidos de forma sustentável e culturalmente apropriada.
Ao contrário de uma visão reducionista da agricultura, a agroecologia propõe um novo paradigma. Enquanto a agricultura convencional muitas vezes se baseia em monoculturas intensivas e uso excessivo de insumos químicos sintéticos, a agroecologia promove a diversificação de cultivos, a integração de sistemas agroflorestais e a minimização do uso de agroquímicos. Ela reconhece a importância da interdependência entre os elementos naturais, buscando sistemas produtivos resilientes, sustentáveis e que estejam acima dos interesses de cartéis e monopólios que dominam a agricultura produtora de commodities.
Promover a biodiversidade agrícola – Ao diversificar cultivos e habitats, a agroecologia fortalece ecossistemas e contribui para a conservação de espécies.
Melhorar a fertilidade do solo – Através de práticas como compostagem, rotação de culturas e uso de adubos orgânicos, a agroecologia mantém a saúde do solo sem comprometer sua fertilidade.
Conservar recursos naturais – Reduzir o uso de agroquímicos e promover práticas de conservação do solo e da água são pilares fundamentais para a agroecologia.
Promover a equidade social e econômica – A agroecologia valoriza a justiça social, reconhecendo o papel dos agricultores familiares e incentivando relações comerciais mais justas e sustentáveis.
Há que se compreender que a agroecologia não é apenas uma alternativa, mas uma necessidade inadiável. Ela oferece soluções viáveis e sustentáveis para enfrentar os desafios contemporâneos da agricultura, como as mudanças climáticas, a degradação ambiental e a desigualdade social. Seu compromisso não é apenas com a inovação técnica, mas também com a transformação da mentalidade. A agroecologia oferece um caminho para uma agricultura mais justa, sustentável e em harmonia com o meio ambiente, sendo essencial que essa abordagem seja adotada e promovida de forma ampla e integral. O sucesso da agroecologia não depende apenas de avanços científicos, mas, principalmente, da valorização dos conhecimentos tradicionais, do apoio político e da participação ativa das comunidades. É hora de repensar e revolucionar a agricultura, colocando as pessoas e o planeta no centro das práticas agrícolas.
E para encerrar, uma frase do Ailton Krenak que diz muito da agroecologia: “O futuro é ancestral e a humanidade precisa aprender com ele a pisar suavemente na terra.”
Mestre em Ecologia Humana e Problemas Sociais Contemporâneos pela Universidade Nova de Lisboa, Especialista em Educação Ambiental e em Gestão Ambiental e Sanitária, e Técnico em Meio Ambiente.