BIODIGESTORES DOMÉSTICOS

A notícia de que um quinto das famílias brasileiras precisam catar lenha para cozinhar, conforme reportado pelo O Globo lá em 2019, é um alerta para uma realidade muitas vezes esquecida ou negligenciada: a pobreza energética. Em um país abundante em recursos naturais e conhecido por sua rica diversidade cultural, é chocante perceber que tantas famílias ainda dependem de métodos tradicionais e muitas vezes insalubres para preparar seus alimentos. E tanto faz se no campo ou na cidade.

No entanto, mesmo diante desse cenário desafiador, há um ensinamento importante que não deve ser desperdiçado. Uma das principais razões pelas quais a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) não é plenamente cumprida e os aterros sanitários continuam a produzir biogás é a “contaminação”, como ardilosamente chamam, dos materiais recicláveis pelos resíduos orgânicos. Esse problema complexo tem raízes profundas na infraestrutura inadequada de gestão de resíduos e na falta de educação sobre a importância da separação adequada dos resíduos.

Há, porém, uma solução que pode reduzir/eliminar tanto a dependência de lenha para cozinhar quanto a “contaminação” de resíduos de forma integrada e eficaz: o uso massivo de biodigestores domésticos. Isso não apenas ofereceria às famílias socialmente vulneráveis uma fonte de energia limpa e sustentável para cozinhar, mas as colocaria no papel de educadoras sociais, uma vez que seriam exemplo de como lidar de forma eficiente e responsável com os resíduos orgânicos.

Os biodigestores domésticos são sistemas simples e eficazes que convertem resíduos orgânicos em biogás, fonte de energia renovável que pode ser utilizada para cozinhar. Essa tecnologia tem potencial para transformar a maneira como as famílias brasileiras lidam com seus resíduos, vendo com clareza a importância de separar os orgânicos dos demais. E se se levar em consideração que, em média, cada pessoa produz meio quilo de resíduo orgânico por dia, um biodigestor doméstico de 5 m3, por exemplo, pode tratar o produzido por quase 100 pessoas.

Sempre há avanços quando não se fica limitado ao eloquente e estéril blablablá das coisas que são ditas e repetidas, mas não praticadas. Biodigestores domésticos, têm um poder transformador ainda desconhecido: melhoram a saúde de quem não precisa inalar fumaça nem conviver com animais transmissores de doenças, resgatam infâncias que se perderiam catando lenha e educam a sociedade quanto ao descarte correto dos seus resíduos. Mesmo que eu e você não tenhamos um biodigestor, podemos muito bem separar os restos de comida que se tornarão biogás para alguma família.

E nem falamos do biofertilizante!

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Gilmar

Mestre em Ecologia Humana e Problemas Sociais Contemporâneos pela Universidade Nova de Lisboa, Pós-graduado em Educação Ambiental, em Gestão Ambiental e Sanitária e Técnico em Meio Ambiente. É consultor especialista em biogás.

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O potencial do biogás